Espero que você…

No dia em que você se foi às pressas e olhando para o chão – como se tivesse medo de flagrar a tristeza em meu olhar, e de, por pena de mim, desistir de ir –, eu menti; fingi desejar o oposto do que sempre desejei – e que ainda desejo – a você. Depois de ter jogado pela janela a foto que tiramos em Buenos Aires e a almofada da Amélie Poulain que comprei para que, em casa, você se sentisse em casa, eu gritei: “Espero que você se foda!”.

Perdoe-me, por favor. Juro que não foi do coração para fora.

Sabe o que eu realmente espero?

Espero que você, em outro ombro, encontre o conforto necessário para dormir – a ponto de sonhar – até ser acordada por uma aeromoça que surgirá para avisar que o avião está prestes a pousar.

Espero que você, dentro de outros braços, sinta-se imune a tudo – até mesmo às balas de fuzil e à vontade de desistir da vida.

Espero que você, nas próximas segundas-feiras, continue a receber mensagens assim: “Amor, obrigado pelo final de semana maravilhoso!”.

Espero que você, em suas próximas viagens, esteja acompanhada por alguém que, ao invés de chiliques, rirá dos quartos de hotel que, até mesmo às baratas e aos ratos, parecem péssimas escolhas. Alguém que, mesmo sobre os colchões mais duros, fará com que suas pernas terminem moles.

Espero que você, quando ameaçar ir ao cinema só de camiseta, tenha alguém por perto para dizer: “Melhor levar uma blusa!”. Alguém que, mesmo depois do seu “Não precisa!”, fará uma proposta irrecusável: “Se você levar a blusa, amor, eu levarei você para tomar aquele sorvete cuja casquinha vem cheia de chocolate. Que tal?”. Alguém que, mesmo quando não conseguir vencer a sua teimosia quase patológica, levará uma blusa extra, sabendo que você, quando o frio chegar, precisará.

Espero que você, quando chegar do trabalho com fome e puta pela ausência de qualquer coisa gostosa – e dentro da validade – em sua geladeira, encontre – ao lado do seu anticoncepcional – uma caixa contendo um Donuts com cobertura de Negresco acompanhado pelo seguinte bilhete: “Jantar dos campeões!”.

Espero que você encontre alguém capaz de encontrar as tarraxas dos seus brincos, restaurantes com várias opções de peixe e a paz necessária para enfrentar os murros que a vida, certamente, ainda lhe dará.

Espero que você, no próximo verão, esteja ao lado de alguém que não pensará duas vezes antes fugir para um lugar bem frio, sem pernilongos e com abundância de comidas calóricas.

Espero que você encontre alguém que, no exato instante em que você chegar, colocará o celular no bolso. Alguém que sabe a diferença entre “estar perto apenas fisicamente” e “estar perto de corpo, alma e coração”.

Espero que você encontre alguém que, na próxima Festa Junina, quando perceber que a rolha da espingarda nunca derrubará as caixinhas de fósforo, trapaceará e utilizará pedras para conseguir aquele ursão gigante que você tanto vai querer.

Sabe o que eu realmente espero?

Espero que você me perdoe pelo “Espero que você se foda!” e que encontre alguém capaz de fazer com que esta vida inegavelmente cheia de pesos, pareça leve. E fácil de ser levada.

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