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NÓS (2019) - EXPLICAÇÃO DEFINITIVA


"Nós" é uma obra prima. Como a Bruxa (2015) e Hereditário (2018). Se não gostou do filme, talvez seja melhor nem ler, porque este texto é parcial. Venho aqui falar de um filme perfeito em todos os sentidos. O cinema de horror deu mais um importante passo para o reconhecimento em premiações. 

Seu diretor (roteirista e produtor) é  Jordan Peele, que fez o cultuado Corra! Produziu Infiltrado na Klan de Spike Lee e o aguardado remake da série Além da imaginação.  Em sua estreia, já concorreu ao Oscar de melhor filme por Corra, como produtor, como diretor, venceu o roteiro e concorreu como produtor em Infiltrado na Klan. Corra ! venceu 147 prêmios. Peele concorreu a 92 prêmios, levando mais da metade.


Era natural certa expectativa para seu próximo filme não? Quando saiu o cartaz, perturbador, a expectativa virou quase realidade no imaginário cinéfilo. A história? Um casal decide ir passar uns dias em uma casa de família na praia. Paralelo a este acontecimento, lembranças de infância atormentam a mulher (a brilhante Lupita Nyong'o). Aos poucos, ela vai pressentindo que um mal pode alcançá-la, o que de fato ocorre numa noite, com consequências inesperadas (para o público, claro !!!).

Atenção. O texto hoje é uma dissecação dos simbolismos do filme, ou seja:

O filme trata do embate do bem com o mal que reside em nós. Mostra com maestria, como as pessoas vão dando cada vez mais força aos seus lados negativos, egoístas e por vezes auto destrutivos. Os "duplos" do filme nada mais são que a personificação do mal de cada indivíduo, que trava uma luta interior (no filme, exterior) para ver quem toma conta daquele corpo, cuja alma é uma só para ambos, como explicado didaticamente no filme.


O que não sabemos, e descobrimos no final da história, é que na sala de espelhos, a  Adelaide jovem (e má) conseguiu trocar de lugar com a boa, vivendo sua vida, e naturalmente com medo de voltar para suas trevas. É a mesma ideia de um preso, que mesmo sendo criminoso, que viver a vida em liberdade.

Na troca de Adelaide e Red, podemos ver uma das sacadas mais geniais da direção. Depois da má aprisionar a boa e viver sua vida, Peele nos mostra que não há pessoas ruins por natureza (ou boas), e que isto é resultado do meio em que vive, mesmo que guarde características (agressivas ou pacifistas) da infância. No filme há uma nítida mudança comportamental em ambas. Adelaide fica mais sinistra, mas mesmo assim, não há impulso assassino nela, enquanto Red fica contida, ainda que em alguns momentos, ela demonstre sua natureza (no caso lembrança) do meio que vivia na infância. Ele traça ai um paralelo com a condição do negro, que vivendo num ambiente sempre hostil, se torna assim, fruto do meio, algo que só poderá ser mudado com a completa mudança social. Em dado momento, pode ter um pensamento lógico, mas preconceituoso, de que se os caras são maus, "diferentes", se expressam de forma desconhecida, porque então libertá-los? Residia ai a afirmação da escravidão.


Jeremias 11:11

Os números em si, já mostram a ideia de repetição. Dois iguais. Duplos. E o versículo na Bíblia é este:

"Portanto assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre eles, de que não poderão escapar; e clamarão a mim, mas eu não os ouvirei."

Este versículo traduz exatamente o filme, mostrando que o mal se emergirá sobre o povo, que não terá forças para vencê-lo e nem ajuda. Na Bíblia, Jeremias foi um profeta que avisou sobre a destruição iminente de Judá durante os reinados dos últimos quatro reis de Judá. Ele foi rejeitado, desprezado e maltratado por transmitir a mensagem de Deus. Mas, no fim, as profecias de Jeremias se cumpriram. Deus avisou a Jeremias que o povo era rebelde e iria rejeitar sua mensagem. Mas Deus lhe daria força para enfrentar toda a oposição e perseguição sem desistir.


Hands Across America

Traduzindo livremente, mãos cruzando América, foi o ato  beneficente organizado por Ken Kragen ( o mesmo cara responsável pelo We are The World) organizada no domingo, 25 de maio de 1986, na qual aproximadamente 6,5 milhões de pessoas seguraram as mãos em uma cadeia humana por quinze minutos. A fim de permitir que um número máximo de pessoas participasse, o caminho ligava as principais cidades. O filme mostra  Adelaide como a catalizadora da libertação do povo de baixo. Assim como o ato era para "salvar" a América (foi um fiasco na época por causa do elevado custo do evento) , no filme, o povo de vermelho quer se libertar, e usa a ideia do evento da década de 80 para simbolizá-lo.


Tethered (Amarrados)

Por razões obvias, o povo de baixo inveja a vida do pessoal de cima. Eles funcionam como sombras, que tencionam a assumir o corpo em algum momento. No final do filme temos a dimensão perfeita da visão de vida dos "amarrados": enquanto o pessoal curte no parque, os debaixo vive aqueles momentos, só que sem o menor sentido, sendo apenas sombras, sem influenciar qualquer coisa na ação, mas sofrendo reflexo dos movimentos ocorridos na superfície.
Inveja

Ainda que de forma sutil, Gabe (Winston Duke) inveja o casal de amigos brancos, por serem muito mais bem sucedidos. Isto reflete a condição do negro, historicamente "atrás" dos brancos, ou seja, menos bem sucedidos e tendo que correr atrás de forma mais expressiva, já que o carro do branco, culturalmente, vai sozinho. Peele mostra ai o preconceito enraizado na cultura norte americana bem como uma sociedade mais preocupada com o consumo e o fútil.


The Underground Railroad 

A "ferrovia subterrânea" era uma rede de pessoas que ajudavam escravos a escapar para o Norte. Gente que escondia escravos nos vagões, em celeiros ou seja,  nos lugares que encontravam Na época, os trens estavam transformando os EUA, era uma coisa poderosa. Daí a alusão no título de que a ferrovia seria a salvação dos negros. No filme, o povo debaixo vive "escravizado" em túneis. Red (Adelaide) seria a pessoa responsável por salvá-los. 

Red

O vermelho é uma cor determinante para a ideia central do filme, já que até mesmo a  protagonista leva este nome. A cor é o gatilho da história, que emblematicamente, representa o sangue derramado pelos negros em tantos anos de escravidão. Adelaide começa o filme com uma maçã...vermelha. O "Saída" do labirinto está em vermelho.


Red pega a camisa de Adelaide, com a estampa de  Thriller, que foi um videoclipe famoso do Michael Jackson, sobre pessoas voltando a vida, o que de fato ocorre com Red, ao tomar o lugar de Adelaide. A camisa dela, com a estampa  "Hands Across America" também está em vermelho. 

Diálogos

Adelaide parece ocasionalmente perder o domínio do inglês quando se aproxima da descoberta da verdade. Em vários pontos, ela parece lutar por uma linguagem coerente, e logo no início, ela diz a sua amiga Katie que às vezes  tem problemas para conversar, o que percebemos que ela significa literalmente. E, crucialmente, no momento em que ela finalmente mata Red, ela solta um rugido profundo que é semelhante às dos "amarrados".


A tesoura

Se por um lado, a tesoura representa trabalho, mostrando os reds como escravos, por outro, eles usam-na para cortas suas amarras ou seja, se libertarem. Ela naturalmente é usada para cortar o elo com o mundo de cima para enfim, terem sua independência e suas próprias almas. 

Do ponto de vista da escravidão, os senhores eram os donos dos escravos e a eles não era permitido ter vontade própria. O escravo era uma figura anulada. Uma sombra, que só existe se o senhor permitir.

Há uma dualidade na tesoura, já que ela é composta por duas partes iguais. Elas também são usadas em muitos filmes de terror / suspense famosos, como Disque M para matar, Boa noite mamãe, Enraivecida na fúria do sexo, Anticristo e Oldboy.



Os coelhos

Há alguns significados com relação aos coelhos. A primeira  é mais óbvia, é uma alusão a Alice no País das Maravilhas , já que eles são principalmente coelhos brancos. No filme você os encontra quando uma garota viaja quase literalmente pelo buraco (do coelho) e literalmente através de um espelho. 

O coelho representa a fertilidade e o recomeço da vida, sendo ele o "responsável" pelo buraco, por isto, a cena de abertura foca justamente nestes animais.

O diretor também "joga" na nossa cara que, mesmo com a maioria branca de coelhos, há alguns "marrons" no cenário. Se você sentiu algo como "que raios significa aqueles pouquíssimos" coelhos de cor naquele cenário, talvez precise rever seus conceitos.

A filha de Adelaide tem um coelho em sua camiseta, assim como seu pijama tem a palavra "Thỏ” que significa coelho em vietnamita.


Jason

Os "reds" imitam seus originais, demonstrando sua falta de personalidade imposta pelos seus donos. Por exemplo,  Kitty Tyler é insegura com a aparência, fazendo sempre retoques no rosto. Sua "outra" corta seu próprio rosto imitando a cirurgia plástica. Abraham, como Gabe, não consegue fazer o barco funcionar. Pluto, como Jason, usa máscara e tem sua história com o isqueiro.

Pluto e Jason (ambos ícones do Slasher no cinema) também se aproximam em várias questões. Primeiro, a mania do isqueiro, naturalmente imitada por Pluto, causa efeitos diferentes em ambos, já que Jason, com estrutura social e familiar melhor definida, sabe que o isqueiro não pode ser acendido, pois ele pode se queimar. E mesmo que não soubesse, os pais não dariam a ele um isqueiro carregado. De forma contrária acontece com Pluto, que se queimou e mostra os efeitos do acidente (consequentemente, cicatrizes da vida). Ambos usam máscaras. Porém um usa para assustar, causar repulsa. O outro para esconder o rosto, por vergonha.


Jason é o único personagem do filme que consegue exercer influencia direta na vida do duplo, tendo em certo momento, consciência de que pode guiá-lo, até mesmo para a morte. Nesta altura, o diretor nos mostra que o ser humano pode ter o controle da situação, eliminando o seu lado mal por atitudes próprias. Ainda que isto sugira uma forma simplista, não é. O filme, assim como a vida real, mostra em seu fim como a humanidade caminha para uma grande perda de controle, e só quem pode retomá-la, somos nós mesmos. 

Os nomes

Há algumas homenagens a personagens da história e do cinema no elenco. O menino por exemplo. Se chama Jason (Voorhees) de um lado e Pluto do outro. Os filmes de Sexta feira 13 são em grande parte, sobre pessoas indo para acampamentos para passar finais de semana, como a família Wilson. Já Pluto, de Quadrilha de sádicos, é o personagem à margem, vitimado por brancos fazendo testes nucleares. E sua ação nada mais é do que uma reação ao que lhe foi feito e o preconceito sofrido.


Abraham, o duplo de Gabe, representava nada menos que o presidente americano assassinado, cujo mérito foi unir as diferentes correntes políticas do norte, conter os avanços militares dos estados do sul além de abolir a escravidão.

O nome da família é Wilson. Ele foi um presidente americano, ligado a três eventos com paralelos no filme. O primeiro foi a entrada dos EUA na primeira guerra. O segundo foi uma atuação marcante no sistema ferroviária (The Underground Railroad ).  Em terceiro, após anos defendendo o sufrágio universal, em 1918, ele endossou a aprovação da Décima-nona Emenda à Constituição, que foi ratificado em 1920, dando direitos iguais de voto para mulheres de todos os Estados Unidos, apesar da oposição dos sulistas. Ao mesmo tempo, o presidente também encheu seu gabinete com democratas do sul, que acreditavam na segregação.

Adelaide significa “de qualidade nobre”, “de nobre linhagem”. Óbvio não?


Zora Wilson. Zora é a a replicante de Blade Runner. Ou seja cópia perfeita de um verdadeiro humano, que no caso é seu duplo Umbrae. Esta palavra está associada à sombra. A palavra é parecida com Umbral, que é o limbo dos mortos, ideia parecida com o lugar que os duplos se encontram.

Talvez não tenha percebido...

Mas a primeira aparição do quarteto vermelho é associada (na formação) ao adesivo no carro da família.

A praia de Santa Cruz foi onde filmaram cenas do Garotos perdidos (1987).  A mãe de Adelaide ( Anna Diop ) diz em certo momento: "Você sabe, eles estão filmando um filme lá no carrossel", fazendo referência à produção de Joel Schumacher.

Lupita Nyong'o baseou a voz de Red em um problema chamado disfonia espasmódica.É uma condição causada por um trauma, às vezes emocional, às vezes física e outras sem explicação. Suas cordas vocais começam a sofrer espasmos e criar essa ruptura abrupta de ar.


Enquanto os Wilsons estão na casa dos Tyler, Jason come uma tigela de Froot Loops secos. A cena faz referência à Corra! (2017), onde Rose Armitage come os Froot Loops secos.

Além de Jeremias 11:11 ser visto escrito em uma placa duas vezes, os números 11:11 aparecem com freqüência ao longo do filme. Quando Gabe está assistindo a um jogo de beisebol na TV, o locutor diz que o jogo está empatado em 11-11. Quando Addie e Jason estão conversando em seu quarto, o relógio digital diz 11:11 pm. Além disso, um trabalhador do parque  e um das gêmeas  usam uma camiseta  da banda Black Flag, cujo logotipo consiste em quatro barras pretas verticais que lembram o número 1111.  Quando os Wilson estão dirigindo a ambulância no final, o número no teto da ambulância é "1111". Quando a família Wilson vai a praia, eles vão andando pela areia com longas sombras que lembram os números de '1111'.Há também 11 caixas de coelhos na abertura, caso perca tempo em contar...

São vistos VHS dos filmes CHUD e Goonies, que tratam de criaturas subterrâneas (no caso do primeiro) e perseguições em túneis, no caso dos Goonies.


"Get Out" é o título do filme anterior de Jordan Peele de 2017, e pode ser visto esculpidas na entrada do hall dos espelhos.

No carro toca uma música em que Eddie Murphy é mencionado. O ator é conhecido por fazer vários papéis em um mesmo filme. 

A camiseta de Adelaide torna-se progressivamente vermelha durante todo o filme, revelando lentamente sua verdadeira origem.

Quando Adelaide está deitada no sofá, ela vê uma aranha na mesa rastejando embaixo de  aranha de brinquedo maior. Esta imagem denota a trama do filme.


Referências

Tubarão, de Steven Spielberg: A construção de algumas cenas é partir do que não é visto. Algo que Steven fez com maestria no seu filme de 1975. Mas Jordan Peele não deixou barato e colocou o filho do casal com uma blusa do filme, que a todo momento, nos lembra de uma fonte de suas inspirações. Há outra cena que remete ao clássico de Steven: quando Lupita está na barraca, com a sensação de que algo vai ocorrer é quase idêntica à de Roy Scheider em Tubarão.

Noite dos mortos vivos, de George Romero: Pessoas presas dentro de uma casa cercadas por pessoas ameaçadoras. 

Voltar a morrer, de Kenneth Branagh e  O sexto sentido, de M.N. Shyamalan. O diretor e roteirista Jordan Peele pediu que o elenco assistisse dez filmes de terror antes das filmagens começarem. Os longas recomendados foram Voltar a Morrer (1991), O Iluminado (1980), O Babadook (2014), Corrente do Mal (2014), Medo (2003), Os Pássaros (1963), Violência gratuita(1997), Mártires (2008), Deixa Ela Entrar (2008), e O Sexto Sentido (1999).  No caso específico dos dois filmes citados no início, o primeiro traz uma mulher recuperando memórias ocultas (no Nós são os flashbacks, que se por um lado, revelam aos poucos o passado da Adelaide, por outro mostra o passado oculto voltando à tona no presente).

A vingança de Jennifer, de  Meir Zarchi. No filme, 4 invasores atacam uma mulher em sua casa de campo. Na vingança dela, um deles é morto com o motor de um barco. Algo bem parecido ocorre em" Nós".


As gêmeas Tyler são um instrumento de referência ao filme Iluminado. Várias sequências fazem menção ao clássico de Kubrick. Em pontos cruciais da trama, o casal central manca de forma parecida com Jack Torrance, personagem de Nicholson em Iluminado. Tanto Wendy (Iluminado) quanto Gabe tentam usar um taco de basebol sem sucesso.

Já no final do filme "O sexto sentido" mostra o momento que o personagem feito por Bruce Willis cai em si, redescobrindo que foi morto por um ex-paciente. No Nós, possivelmente ocorre a mesma situação. A Adelaide (má) teve a atitude de trocar (e aprisionar) seu lado bom, porém viveu de forma que isto caiu no esquecimento, como uma memória seletiva, muito comum em nossas vidas. Quem nunca optou por esquecer algo ruim, e ao longo de décadas, realmente o faz?  

Violência gratuita, de Michael Haneke. O que seria um bucólico período de férias à beira de um lago para Anna, George e seu filho pequeno, transforma-se num pesadelo quando recebem a visita de um casal de jovens psicopatas, que os submetem a um tenso jogo de tortura psicológica. Similar?

A hora do pesadelo, de Wes Craven. Além das queimaduras de Pluto e as luvas da família que são similares à do Freddy, sem as garras (mas com a tesoura), a viagem de Adelaide à sala das caldeiras é semelhante ao local onde Freddy Krugger ceifou suas vítimas.

O homem com dois cérebros, de Carl Reiner. O filme, além de servir de ideia para o "Corra", também tem conexão em "Nós", já que as pessoas de cima e de baixo são conectadas.


Além da imaginação. Jordan Peele é fã da série e uma referência não poderia faltar. Na primeira temporada, em um dos episódios, Vera Miles se convence que está sendo perseguida pelo seu doppelgänger (cópia idêntica).

Ou seja, um dos grandes aprendizados de promissores diretores é fazer uma obra copiando estilos de diretores que eles são fãs e filmes que os influenciaram, porém tornando a miscelânea ... original e não apenas um recorte. Peele faz exatamente isto. Faz um trabalho extremamente original, autoral mas com características marcantes de outros realizadores incorporadas, porém com sua assinatura. 


"Once upon a time, there was a girl and the girl had a shadow. The two were connected, tethered together. And the girl ate, her food was given to her warm and tasty. But when the shadow was hungry, he had to eat rabbit raw and bloody. On Christmas, the girl received wonderful toys; soft and cushy. But the shadow's toys were so sharp and cold they sliced through her fingers when she tried to play with them. The girl met a handsome prince and fell in love. But the shadow at that same time had Abraham, it didn't matter if she loved him or not. He was tethered to the girl's prince after all. Then the girl had her first child, a beautiful baby girl. But the shadow, she gave birth to a little monster. Umbrae was born laughing. The girl had a second child, a boy this time. They had to cut her open and take him from her belly. The shadow had to do it all herself. She named him Pluto, he was born to love fire. So you see, the shadow hated the girl so much for so long until one day the shadow realized she was being tested by God."
Red (Lupita Nyong'o)



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