Dólar subindo e as Eleições: há alguma relação?

Dólar subindo e as Eleições: há alguma relação?

Desde que terminou a Copa do Mundo, só se fala sobre um assunto em conversas de família, rodas de bares e nas redes sociais: ELEIÇÕES. De 4 em 4 anos nosso país passa pelo processo eleitoral para eleger o principal cargo político, o de Presidente da República, e, por ser um regime democrático, em cada eleição existem uma série de candidatos que anunciam suas propostas, de acordo com suas ideologias, e participam da campanha para conquistar seus votos.

Nas últimas semanas, tenho recebido perguntas de várias pessoas perguntando porque as eleições mexem tanto com o dólar e com a Bolsa de Valores, e por isso resolvi escrever este artigo. É importante ressaltar que o artigo não tem intuito de fazer campanha para nenhum candidato, mas apenas analisar cenários que acontecem de acordo com pesquisas eleitorais.

Renda Variável

A primeira coisa que temos que entender é do que se tratam as ações (ativos negociados na Bolsa de Valores) e o dólar. Ambos são ativos pertencentes ao mercado financeiro, sendo as primeiras do mercado de capitais e o segundo do mercado de câmbio. Ambos, quando vistos como investimentos, são classificados como ativos de renda variável (oposto de Renda Fixa). Ou seja, não há uma taxa de juros e, mais do que isso, deixar o investimento por mais tempo não significa maiores ganhos, neste caso, o nome variável se dá em função das altas e baixas que os investimentos acabam tendo, podendo representar ganhos e também perdas.

Risco

Esses investimentos, por conta dessa variabilidade, além de POSSIBILITAREM maiores ganho, acabam, justamente em função da relação risco x retorno, tendo um risco maior. E o principal risco envolvido neste caso é o Risco de Mercado. Esse risco pode ser resumido como as oscilações de eventos que atingem sistematicamente todo o mercado, como por exemplo noticiários envolvendo a política, economia, países, empresas, setores e segmentos.

Oferta e Demanda

E o que acarreta e impacta nos preços por conta deste risco é a tão famosa Lei da Oferta e Procura. Conforme já falamos anteriormente no blog, esta Lei é um modelo de determinação de preços num mercado. Nos períodos em que há mais oferta de um bem ou serviço do que procura, seu preço tende a cair. Já nos períodos em que a demanda supera a oferta, a tendência é aumento dos preços.

Dessa forma, quando sai uma notícia negativa em relação a um Governo ou uma empresa, os investidores tendem a querer se desfazer de investimentos relacionados a isto, e, por conta de um cenário de maior pânico que é gerado, de maneira geral as pessoas buscam investimentos mais conservadores ou até não investir. Isso faz com que exista uma oferta maior do que a demanda, o que faz os preços caírem.

Já no cenário oposto, quando sai uma notícia favorável, muita gente vê essa oportunidade para investir e passar a querer comprar os ativos atrelados a isto, e, por conta de um aumento na demanda, os preços sobem.

Mas o que as eleições têm com isso?

Conforme falei no começo, nas eleições existem pelo menos dois candidatos que, acabam apresentando um posicionamento de acordo com uma ideologia. De maneira geral, podemos dizer que costumam existir candidatos de direita e de esquerda. De maneira geral, resume-se que os candidatos da esquerda acabam priorizando o controle estatal da economia e interferência ativa do governo em todos os setores da vida social, buscando um tom de maior igualdade. Já os candidatos de direita têm uma afinidade maior com a liberdade de mercado, defendendo direitos individuais e com baixa intervenção do Estado.

De acordo com as ideologias dos candidatos, o mercado acaba se posicionando em favor do candidato que trará maior benefício para ele, que, costumam ser o candidatos da direita. Mais do que isso, candidatos da esquerda mais extremistas, costumam assustar o mercado, pois várias medidas vistas como contrárias à economia capitalista são colocadas à prova.

Porém, falando especificamente do Brasil, vale lembrar que não é apenas o Presidente da República que governa o país, o Poder Legislativo, composto pelos Deputados Federais e Senadores é responsável por aprovar as medias e leis, o que faz com que o posicionamento destes também tenha papel fundamental.

O que acontece nos anos eleitorais é basicamente uma especulação do mercado, de acordo com as propostas e as pesquisas eleitorais. Quando um candidato que não agrada muito o mercado dispara nas pesquisas, investidores daqui e de fora ficam mais receosos e tiram dinheiro de investimentos com maior risco de mercado, como é o caso das ações, o que acaba significando uma demanda menor e uma oferta maior, o que faz a bolsa cair. Já no cenário oposto, quando um candidato que agrada mais o mercado sai na frente nas pesquisas, há um aumento na demanda, o que faz a bolsa subir. O aumento ou redução da cotação do dólar acaba tendo uma total relação com isso, de acordo com o aumento ou redução do volume da moeda estrangeira aqui no mercado. Notícias como estas são vistas diariamente:


Histórico

Repare o gráfico abaixo, que mostra a evolução do Ibovespa de 1993 até o momento (as setas indicam os anos que ocorreram as eleições presidências). Nos anos em que há maior incerteza, as especulações são maiores, e, consequentemente, há maior volatilidade:


As eleições em cada um destes anos foi marcado pelo seguinte cenário:

No gráfico abaixo, mostrando as eleições de 1994, 1998 e 2002, a maior oscilação é na curva de 1998, porém por fatores externos às eleições (crise Russa, que trouxe impactos negativos por aqui também). Já nos anos de 1994 e 2002 vemos dois comportamentos distintos. Em 1994, a reversão se deu quando o candidato mais aceito pelo mercado, o então Ministro da Fazenda, destinado a ajustar a economia e reduzir a inflação, Fernando Henrique Cardoso, superou o candidato de esquerda, Lula, conforme a pesquisa abaixo. Em 2002, o país havia passado por uma crise em 1999 e continuava a ver impactos na economia. Por isso, havia nascido o “Risco Lula”, o medo do mercado em relação ao candidato de esquerda, o Lula, vencer a eleição. E foi justamente o que aconteceu.

Já abaixo, vemos um gráfico de 2006, 2010, 2014 e 2018. Ao contrário do que o mercado esperava, o primeiro Governo Lula foi muito positivo para a economia, elevando o Brasil a cenários melhores, o que fez com que o receio do mercado pela reeleição do presidente petista não tivesse grandes impactos. Argumentos parecidos foram pensados nas eleições de 2010 (mesmo ainda com efeitos da crise econômica mundial de 2008). Porém, para o mercado a Dilma não conseguiu replicar o que Lula havia feito, e, com os cenários indicados a sua reeleição, a bolsa começou a trazer quedas a partir de setembro daquele ano.

Já o cenário de 2018 é bem diferente. Diversos esquemas de corrupção, prisão do ex-presidente Lula, crise financeira, impeachment da Dilma, greve dos caminhoneiros trouxeram um cenário eleitoral mais incerto, o que faz com que a curva tenha maiores oscilações.

Repare também o gráfico da cotação do dólar, nas eleições anteriores e na eleição atual, que mostra um cenário de maior incerteza:

Mas como dissemos no começo, trata-se de renda variável, portanto, são apenas especulações. Se você está investindo, lembre-se que todo ano eleitoral, independente do país, haverá maior volatilidade nos mercados, e, pensando no longo prazo, essas variações podem não ter grande significado para a sua carteira de investimentos.

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