Encrochat: A rede de comunicação do crime

em 09/07/2020


O EncroChat era um provedor de serviços e redes de comunicações, usado por criminosos para planear inúmeras atividades ilícitas. O EncroChat foi infiltrado e desmantelado pela polícia entre Junho e Julho de 2020 durante uma investigação simultânea em toda a Europa.

Um caso que parece saído da ficção

A explicação a respeito do que é esse "serviço" nos lembra muito o enredo de filmes de espionagem, e até de heróis, onde grupos criminosos formam redes e alianças do mal. Lembram também algumas das lendas da Deep Web, muito populares entre os anos 2012 e 2014, onde falava-se de grupos de criminosos que torturavam pessoas sob encomenda (clique AQUI para saber mais), faziam vídeos de assassinatos (clique AQUI para saber mais) ou até transformavam pessoas em brinquedos sexuais (clique AQUI para saber mais). Por mais esses tópicos que citei acima muito provavelmente não passam de mitos, é bizarro saber que uma parte dessas lendas é real.

Um estudo feito em 2015 afirma que a Deep Web está diminuindo, conforme os amigos e amigas podem conferir clicando AQUI. Isso pode ser um indício de que certas atividades do mercado negro que era movimentado pela deep web, pode estar migrando para outro meio, redes de celulares semelhantes ao encrochat. 

O que é o EncroChat

O encrochat é um serviço que promete comunicações ultra-seguras e completamente encriptadas, mediante a utilização de smartphones Android modificados. Lembrando que essa era a principal premissa das lendas da deep web linkadas acima.

Leia mais: Links da Deep Web 2020


Estes smartphones (muitos deles os BQ Aquaris X2), são alterados fisicamente para desativar o GPS, câmara e microfone, para assegurarem a 100% que não poderão ser utilizados para espiar os utilizadores, e contam com a aplicativo de mensagens encriptadas do próprio serviço. Contam ainda com funcionalidades adicionais como um sistema secundário Android normal, caso seja preciso disfarçar as funcionalidades "secretas"; e sistema de eliminação rápida para apagar todos os dados do smartphone em caso de emergência.


Embora a empresa anuncie os seus serviços para o público em geral, não é de estranhar que a grande maioria (estima-se que mais de 90%) sejam criminosos, a quem todas essas funcionalidades agradam, e que estariam dispostos a pagar as somas avultadas (mais de 1000 euros por ano) pelo serviço. E agora... foi tudo por água abaixo.

Apesar de todas as promessas de segurança absoluta, que fazia com que os utilizadores deste serviço falassem abertamente sobre negócio de tráfico de drogas, e até de assassinatos contratados, as autoridades conseguiram infiltrar-se no sistema e espiar todas essas mensagens durante meses.Só na Holanda, esses dados já levaram à detenção de mais de 100 suspeitos, desmantelamento de 19 laboratórios de fabrico de drogas ilegais, apreensão de mais de 8 toneladas de cocaína, armas, automóveis (alguns com compartimentos secretos), bens de luxo, e 20 milhões de euros em dinheiro.
Graças ao desmantelamento da Encrochat, a polícia holandesa descobriu uma série de contêiner s transformados em prisões e câmaras de tortura. Esses espaços eram usados por criminosos para torturar rivais. Neles foram encontrados inclusive uma série de câmeras de monitoramento, o que pode ser um indício de que tais torturas possam ter sido gravadas ou transmitidas. Mais informações a respeito desta descoberta da polícia podem ser acessadas AQUI.

Como a polícia desmantelou a rede?

Segundo matéria do Vice, polícia monitorou cem milhões de mensagens criptografadas enviadas pelo Encrochat, até conseguir de fato mapear e localizar possíveis usuários que estavam utilizando os serviços para práticas criminosas.

Desde o início deste ano de 2020, a polícia continuou prendendo associados de Mark, um suposto traficante de drogas sediado no Reino Unido. Mark levou a sério a segurança de sua operação, com a gangue usando nomes de código para discutir negócios em telefones personalizados e criptografados feitos por uma empresa chamada Encrochat.

Como as mensagens foram criptografadas nos próprios dispositivos, a polícia não pôde tocar nos telefones do grupo ou interceptar mensagens como as autoridades normalmente fariam. No Encrochat, os criminosos falaram abertamente e negociaram seus acordos com detalhes, com listas de preços, nomes de clientes e referências explícitas às grandes quantidades de drogas que vendiam, de acordo com documentos obtidos pela Motherboard, de fontes no mundo criminal e em seus arredores.

Talvez tenha sido uma coincidência, mas, no mesmo período, a polícia do Reino Unido e da Europa prendeu uma grande variedade de criminosos. Em meados de junho, as autoridades buscaram um suposto membro de outra quadrilha. Alguns dias depois, as autoridades apreenderam milhões de dólares em drogas ilegais em Amsterdã. Era como se a polícia estivesse detendo pessoas de gangues completamente independentes simultaneamente.

"[A polícia] por toda parte, não são eles", escreveu o traficante em uma das mensagens obtidas pela Motherboard. "Minha cabeça ainda esta confusa de como eles atacaram todos os meus caras".

Sem o conhecimento de Mark ou das dezenas de milhares de outros supostos usuários do Encrochat, suas mensagens não eram realmente seguras. As autoridades francesas haviam penetrado na rede, aproveitado esse acesso para instalar uma ferramenta técnica no que parece ser uma operação de hackers em massa, e vinha lendo silenciosamente as comunicações dos usuários há meses. Os investigadores então compartilharam essas mensagens com agências em toda a Europa.


Somente agora a escala surpreendente da operação está em foco: ela representa uma das maiores infiltrações policiais de uma rede de comunicações predominantemente usada por criminosos de todos os tempos, com os usuários do Encrochat se espalhando pela Europa para o Oriente Médio e outros lugares.

Agências francesas, holandesas e outras polícias Europeias monitoraram e investigaram "mais de cem milhões de mensagens criptografadas" enviadas entre usuários do Encrochat em tempo real, levando a prisões no Reino Unido, Noruega, Suécia, França e Holanda.

Operação Venetic é o nome da operação concertada da Agência Nacional do Crime do Reino Unido. Como resultado da infiltração da rede, a polícia britânica prendeu 746 indivíduos, incluindo os principais chefes do crime organizado, interceptou duas toneladas de drogas (com um valor de rua na época superior a 100 milhões de libras esterlinas), apreendeu 54 milhões de libras em dinheiro, além de armas, incluindo metralhadoras, revólveres, granadas, uma espingarda de assalto AK47 e mais de 1 800 cartuchos de munição.Mais de 28 milhões de comprimidos do sedativo Etizolam foram apreendidos. Vários polícias e agentes de lei corruptos foram também identificados.

Enquanto traficantes planejavam negociações, os lavadores de dinheiro lavavam suas receitas e até os criminosos discutiam seu próximo assassinato, os policiais liam suas mensagens e começavam a tirar os suspeitos das ruas.


As mensagens "revelaram um grande número sem precedentes de crimes graves, incluindo grandes remessas internacionais de drogas e laboratórios de drogas, assassinatos, assaltos violentos, extorsões, assaltos, agressões graves e sequestros. Corredores internacionais de lavagem de dinheiro e drogas tornaram-se claros. ", Disse a polícia holandesa.

Agências policiais já haviam agido contra empresas de telefonia criptografadas. Em 2018, o FBI prendeu o proprietário do Phantom Secure. O FBI tentou convencer o proprietário a instalar um backdoor no sistema de comunicações - ele recusou - antes de desligar a rede.


Quando amanhecer, você já será um de nós...

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