Educação à deriva: foram as escolas que disseminaram o vírus?

Educação à deriva: foram as escolas que disseminaram o vírus?

E começa novamente a saga das restrições mais rígidas à circulação de pessoas.

Em todo o mundo, discussões sobre a abertura ou não das instituições de ensino permeiam as principais rodas de debate desde o início da pandemia. Claro que com isso seguimos com a talvez mais essencial das dúvidas: Fechar ou não as escolas, qual o momento ideal e de quem é essa decisão?

Rolaram as festinhas, as idas ao shopping estavam normalizadas, os encontros nos barzinhos com parentes e amigos também e as escolas permaneceram fechadas.

Enquanto as pessoas ignoraram leis, fizeram da pandemia um jogo político, nossas crianças ficaram pacientemente esperando a boa vontade e consciência da população para a retomada do serviço essencial do país: a qualificação do ser humano, do trabalho, do futuro. E não foi isso o que ocorreu. Abriram diversos setores deixando a educação por último.

Os especialistas são unânimes quando avaliam os serviços essenciais para a infância, afirmando que a escola deve ser a ultima atividade a fechar e a primeira a abrir. A culpa dessa segunda onda está sendo de maneira irresponsável jogada em cima da abertura das escolas.

Com base em estudos científicos e na experiência de outros países, é que as escolas não são consideradas um ambiente potencialmente perigoso na transmissão do vírus, especialmente entre as crianças – desde que respeitados os protocolos de higiene, uso de máscara e distanciamento.

Os dados da Secretaria Estadual de Saúde reforçam que as escolas são ambientes seguros para os estudantes: ainda sobre as pesquisas científicas, a taxa de incidência do novo coronavírus por 100 mil habitantes no ambiente escolar é 33 vezes menor do que a taxa de incidência por 100 mil habitantes na população em geral no estado de São Paulo.

O pediatra e sanitarista Daniel Becker, um dos coordenadores do movimento Lugar de Criança é na Escola, que reúne cerca de 400 pediatras e a sociedade civil em apoio à reabertura das escolas, em diversas entrevistas,  reconhece a gravidade do cenário atual e concorda que, em casos excepcionais, faz sentido que as escolas sejam provisoriamente fechadas. Para ele, no entanto, as decisões precisam ser pontuais e levar em consideração a realidade de cada local.

“Se as autoridades sanitárias avaliam que estamos numa fase de altíssima transmissão e alto risco de contaminação, faz sentido fecharmos as escolas. Nada é maior do que o valor da vida. Mas elas só devem fechar quando todo o resto for fechado. Fechar escola antes de fechar igreja e bares, por exemplo, é inadmissível como política de combate à pandemia, porque você comete um crime contra a infância”, afirmou o pediatra.

Também defensor das escolas abertas, o médico epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP, admite que o atual momento exige decisões mais rígidas e que desestimulem as pessoas a saírem de casa. Na avaliação de Lotufo, além de fechar comércio, igrejas e escolas, o governo deveria limitar a circulação em rodovias para evitar que as pessoas viagem para o litoral ou para o interior na Páscoa.

“Se tivéssemos tomado medidas mais restritivas há algumas semanas, talvez não precisássemos fechar as escolas hoje. Se com essa medida a gente conseguir não aumentar o número de casos novos já será um ganho e tanto”, afirmou Lotufo.

Não são as escolas que oferecem riscos à população; não é dentro da escola que as crianças ficarão expostas ao contágio, visto que as instituições estão tomando todas as medidas de segurança.

Já passou da hora de incluírem os professores nos serviços essenciais e viabilizarem a vacina; passou da hora das pessoas se conscientizarem de que não é para sair, não é para se aglomerar; a hora agora é de mobilização, solidariedade e empatia para com o nosso futuro.

 Não são as escolas que se tornam um problema na pandemia, mas sim a falta delas.

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