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ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO (2007) - FILM REVIEW

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Antes que o diabo saiba que você está morto

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Algumas carreiras cinematográficas são tão poderosas que são dignas de admiração como um todo. Sidney Lumet está neste hall que entrou e saiu com glórias em 2011, após sua morte aos 86 anos. Aliás, seu primeiro filme foi, simplesmente, uma das obras mais perfeitas do cinema: 12 Homens e uma Sentença. Lumet era um exímio "diretor de atores", se envolvendo com produções costumeiramente teatrais, em pequena escala, onde a força narrativa estava na interpretação do elenco, geralmente estelar e não incomum,  candidatos ao Oscar por seus grandes papéis.

O filme de hoje é "Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto", filme que mostra Andy, um corretor endividado, que precisa de dinheiro rápido. Ele envolve o seu irmão mais novo, Hank, em um esquema para cometer o crime perfeito: roubar a joalheria dos seus pais. O plano dá errado e o patriarca da família quer fazer justiça com as próprias mãos, sem saber que os criminosos que ele procura podem ser pessoas bem mais próximas que ele imagina.

A narrativa truncada favorece os mistérios sobre o desenrolar da história e o que levou os personagens às escolhas totalmente equivocadas. O elenco, muito bem escolhido, dá personalidade á trama de forma ímpar, principalmente pela qualidade e entrega dos atores e atrizes.

E o fundamental na trama é justamente fazer com que criemos empatia por todos, sentimos suas dores, arrependimentos e motivações. A maestria de Lumet consegue desviar a atenção do assalto (que vemos várias vezes, devido às idas e vindas da história) para os problemas da família e suas relações, bem como os "porquês" de tudo chegar ao ponto que chegou.  O roteiro, do estreante Kelly Masterson, é afiado. Curiosamente, depois deste, ele só fez 4 trabalhos (Expresso do Amanhã, Quem Matou Kennedy? e Risco Imediato).

Curioso como que, com apenas 30 minutos, acreditamos que podemos telegrafar o resto da história facilmente, evocando o lema "Mais importante que o destino, é a viagem". Não poderíamos estar mais errados. Ao longo do filmes, vemos a trama de diversos ângulos e em todos, chegamos a conclusão que o crime não compensa. Mas a trama não se reduz a isto, tendo sempre o norte que a maldade os cerca. Nos cerca. De forma irremediável. 

O título do filme vem do brinde irlandês: "Que você esteja no céu meia hora antes que o diabo saiba que você está morto." A certa altura, o personagem de Hoffman reflete sobre sua existência após uma tarde regada à drogas: "- Eu não sou a soma das minhas partes. A junção delas não forma um único eu". Isto mostra como o personagem se encontra dramaticamente fragmentado e mesmo que junte os cacos, ele não existirá como ser humano como fora concebido. Ele reconhece, para si, que se perdeu.

Numa destas curiosidades mórbidas da vida, o seu personagem é retratado como um usuário de drogas da classe alta, que é visto consumindo cocaína e heroína ao longo do filme. Na vida real, Philip Seymour Hoffman morreu de uma overdose aguda de drogas misturadas de uma bola de heroína, cocaína, benzodiazepina e anfetamina, em 2 de fevereiro de 2014. Antes de sua recaída em 2013, Hoffman estava completamente sóbrio por 23 anos.

Nunca ficam claros exatamente quais são os motivos de Andy para o roubo. Afinal, ele precisa do dinheiro para que ele e sua esposa possam se mudar para o Brasil (!!!) e começar de novo, ou é apenas a ideia para um crime perfeito ou ainda o roubo é para alimentar seu vício em drogas? Parece piada interna do cinema, mas o fato é que, assim como a Suíça é o paraíso para quem quer esconder dinheiro ilícito, o Brasil é o local ideal para pessoas passarem o resto de suas vidas após praticarem golpes. Será a imagem de impunidade que passamos?

Desde a cena inicial, onde Marisa Tomei está de "quarto", transando com Hoffman, o objetivo da trama é incomodar, mesmo com atitudes rotineiras como o sexo. Aos poucos, vamos vendo que se perder na vida é mais fácil que imaginamos. Às vezes depende apenas de uma aparente boa ideia e uma grande dose de infelicidades que vão acontecendo ao longo do caminho. Lumet nos mostra, que se não vigiarmos, podemos ser personagens de uma trama como esta. E pior ainda: qualquer um deles.


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