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SANGUE DA PANTERA (1942) - FILM REVIEW



Pessoas gato.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Val Lewton - pouco dinheiro e muita criatividade

Val Lewton foi uma espécie de "plano b" que deu certo. A Universal reinava com seus monstros (Drácula, Frankenstein e banda), suas continuações e crossovers. Esgotaram o gênero num reinado absoluto de uns 30 anos. Inclusive hoje, tentam sem sucesso obter novamente aquele domínio, mas as adaptações são fantasiosas demais, necessitando de impor ritmos mais frenéticos para tentar retorno financeiro. 

Mas voltando a Lewton

Naquele cenário, os filmes B reinavam, e se hoje são considerados cults, na época não faziam dinheiro. E não poderia ser diferente com a RKO, que estava mal das pernas nos anos 40. Com isto buscavam boas ideias, mas executados de forma rápida e barata. E Lewton entrou como solução. Para o primeiro filme, escalou Tourneur, um diretor bem mais ou menos até então (a partir daí fez uma obra-prima atrás da outra), portanto, barato de contratar. 


Veio com isto O Sangue da Pantera, e com o sucesso, pavimentou o caminho para "A Morta-Viva" e "O Homem-Leopardo", tornando Tourneur (não resisti à aliteração) conhecido e com oportunidades melhores. E com estes três filmes, Val Lewton conseguiu um estilo próprio, bem diferente dos monstros da Universal, cujo objetivo era concorrer. Estilo este que se destacava pela sutileza e a sugestão.

A RKO deu a Val Lewton apenas 150 mil dólares para fazer o filme, tornando necessária a produção "criativa". Isso forçou muitas das cenas que exigiam efeitos especiais a serem feitas nas sombras, o que muitos acreditam ter aumentado o suspense do filme. Quando os executivos do estúdio insistiram que mais filmagens da pantera fossem incluídas no filme, Lewton foi capaz de manter o orçamento e o suspense do filme, limitando em quantas cenas a pantera poderia ser vista visivelmente e dizendo ao diretor de fotografia para "manter a pantera nas sombras" . Assim, a pantera só era visível no escritório e na jaula do zoológico.


O supervisor Lou L. Ostrow estava tão insatisfeito com o estilo do filme que queria substituir o diretor Jacques Tourneur após poucos dias de filmagem. O chefe da unidade B da RKO, olhou para os primeiros três dias de corridas e não ficou feliz com o que viu. Ostrow queria Lewton fora, mas acabou sendo rejeitado pelo chefe da RKO Charles Koerner, que estava feliz com o trabalho de Lewton e queria que ele continuasse.

Sangue da Pantera

A história segue uma sérvia chamada Irena Dubrovna, que conhece o americano Oliver Reed (não é o ator, claro!!) em um zoológico. Eles começam um relacionamento e se casam. Mas paralelo a isto tem problemas porque Irena acredita ser descendente de uma raça diferente de mulheres. Ela acredita possuir o sangue de pantera (tem constantemente alucinações com grandes felinos e durante a noite ouve uivos). Quando mergulha em sentimentos fortes como: ciúme, raiva e lascívia, liberam a "pantera" assassina que tem dentro de si. E, ao mesmo tempo, em que se interessa pelas suas histórias, um psiquiatra tenta seduzi-la. 


Lewton e sua produção são creditados por inventar ou popularizar a técnica de filme de terror chamada "Lewton Bus", em português "Ônibus do Lewton". O termo deriva da cena em que Irena está seguindo Alice. O público espera que Irena se transforme em uma pantera a qualquer momento e ataque. No ponto mais tenso, quando a câmera focaliza o rosto confuso e aterrorizado de Alice, o silêncio é quebrado por aquilo que soa como um rosnar de pantera, mas é apenas um ônibus encostando. Esta técnica tem sido usada muitas vezes até hoje. Qualquer cena em que a tensão é dissipada por um simples momento de sobressalto, um "boo!", é um 'Lewton Bus'.

O filme joga com as verdades: será mesmo a personagem vítima de uma maldição fantástica e aterrorizante? Um tipo de vampiro felino... Ou ela tem um distúrbio psicológico forte, com possibilidade de ser curada? Gradativamente, estes elementos são jogados no telespectador de forma sutil, porém com novos joguetes com finalidade de complicar a solução final, como Oliver, que se apaixona por uma colega de trabalho ou o doutor, que se apaixona pela fera e se aproveita de sua "fragilidade" para conseguir consumar sua paixão. Situações que destroçam sua sanidade, tornando mais ambíguo o rumo da trama. O que é um grande mérito o filme.


Para quem não assistiu, fica o texto sem spoilers, para não estragar a surpresa. Mas é interessante ressaltar que o final foi uma imposição do estúdio, que, aliás, veio a ser uma sina de Jaqcues, já que (de novo não resisti à aliteração) em A Noite do demônio, o estúdio obrigou-o a colocar aquela horrenda cena com o demônio. Todos deveriam ter terminado como proposto: dúbio, sutil e sugestivo.

DeWitt Bodeen escreveu o roteiro de "Sangue de Pantera" baseado no conto de Lewton "The Bagheeta" publicado em 1930. O filme teve uma sequência em 1944, chamada A Maldição do Sangue de Pantera, e um remake em 1982, com o nome de "A Marca da Pantera".


O filme fez tanto sucesso de bilheteira que atrasou o lançamento dos dois filmes seguintes de Lewton ( A Morta-Viva e O Homem-Leopardo). E caso um dia se pergunte quanto tempo demora-se para filmar uma obra-prima, a dupla Lewton e Tourneur responderia rapidamente: "18 dias". Este foi o tempo que Sangue da Pantera foi realizado.

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